Toque na virilha que imita mãe do cachorro? Fuja disso!



Estudos comprovam que quando os cães aprendem com o uso de métodos aversivos, desenvolvem problemas de comportamento como agressividade, ansiedade ou fobias. E, infelizmente, grande parte das pessoas que ainda utiliza esses métodos, não percebe o mal que está causando aos seus cães.

Baseados em mitos como o da dominância, em que se acreditava que os cães precisam ser colocados em seus lugares, de submissão, pois, caso contrário irão mandar em seus donos, alguns "adestradores" empregam técnicas para mostrar ao cão “o seu lugar”. E, com isso, geram insegurança, medo e cães que passam a ver o mundo de forma vulnerável, sem saber o que esperar do ambiente em que vivem, tendo até mais chances para contraírem doenças, por estarem sempre em estado de stress

Outro mito que alimenta o uso de aversivos é o da matilha, como se cães domésticos se organizassem em hierarquias claras em que nós, humanos, temos que ser os líderes, ou machos-alfa. O defasado lema: seja o líder da matilha(falamos mais sobre esse assunto neste texto), já foi responsável por diversos erros de manejo como o toque no pescoço, que imita a boca da mãe, o toque na virilha e cutucões com o barulho “shhh”.

Infelizmente o que muita vezes vemos na mídia no que se refere a educação de cães, é show. O cão agressivo que após morder o adestrador fica parado igual estátua ao seu lado. Isso vende. E adestramento comportamental é pacato, feito por repetições. E isso não dá ibope,rs.

Nesse adestramento à moda antiga, na realidade, o que vemos é um cão sem necessidades básicas supridas e ainda submetido a um equipamento (guia unificada, colar de elos, pinos ou collar) que não servem para modelagem comportamental e sendo utilizado como única ferramenta para "educar" o cão.

Grande parte dos treinadores de cães, hoje em dia, apresenta seu método de trabalho como “positivo”, “livre de punições” ou “sem castigos”. Mas na prática esses profissionais, colocam um enforcador de elos, ou de pinos no pescoço do cachorro, apertam esse enforcador até que o cão descubra sozinho (muitas vezes depois de quase perder o ar, pular, saltar ou até tentar morder) que, para se livrar do medo e da dor causadas por esse enforcamento, terá que emitir o comportamento desejado, de se sentar. Desde época que trabalhei no zoológico, esses equipamentos eram utilizados para resgate animal ou para manejo rápido. E nunca como ferramenta educacional. 

Como nossa profissão não tem nenhum tipo de regulamentação, qualquer pessoa pode se intitular treinador, adestrador ou educador de cães. Basta que outra pessoa confie no seu título e lhe entregue seu cão para ser educado.

Por isso é muito importante que o profissional que trabalhe com cães, tenha conhecimento sobre como esses animais aprendem, conhecer sobre suas funções cognitivas, emoções que vivenciam, como expressam essas emoções por meio da linguagem corporal e sinais de apaziguamento (Calming Signals) conhecer profundamente os comportamentos específicos da espécie. 

O adestramento comportamental não educa com punições aversivas que causem dor ou coerção. Educamos sem provocar medo ou dor.

Diversos estudos científicos contribuem para um entendimento cada vez maior sobre o comportamento de cães. Em zoologia, a Etologia é a especialidade da biologia que estuda o comportamento animal. 

Está ligada aos nomes de Konrad Lorenz e Niko Tinbergen, sob influência da Teoria da Evolução, tendo como uma de suas preocupações básicas a evolução desse comportamento. E esses  comportamentos herdados são fixos? Alguns comportamentos são difíceis de alterar, outros são mais fáceis. Quando o comportamento instintivo causar problemas, é importante procurar mudar a maneira pré-programada do cão entender as coisas. Retirar esse comportamento não desejado e inserir o novo comportamento. 

E entrando no assunto de punição e reforço, dentro da teoria do Condicionamento Operante, descrita pelo  psicólogo Burrhus Frederic Skinner, a execução de um comportamento/ação é associado a uma consequência. 

"A consequência boa, chamada de reforço, vai aumentar em frequência e intensidade a expressão daquele comportamento 

Já a consequência ruim, chamada de punição, vai diminuir em frequência e intensidade a expressão daquele comportamento"  B.F. Skinner

E os cães passam pelo processo do condicionamento operante o tempo todo e o nosso comportamento também cria essas consequências e definem a permanência ou não de determinados comportamentos expressados por eles.

Reforço e Punição

Estão presentes nas metodologias de adestramento e definem o aprendizado, a estabilidade e saúde emocional do cão que está no processo de adestramento. O reforço sempre irá aumentar a frequência do comportamento do cão enquanto a punição sempre irá diminuir‼️

Reforço POSITIVO -  a soma de algo bom após a expressão de um determinado comportamento.

Reforço NEGATIVO - é a subtração de algo ruim após a expressão daquele comportamento.

Exemplos

Reforço Positivo

O cão senta e ganha um biscoito após sentar. O biscoito foi a soma de algo bom após o comportamento de sentar, e geralmente este comportamento tende a aumentar.

Reforço Negativo

O cão está atrás de um portão e late para passar, o portão é então retirado e este cão consegue sair

O comportamento de latir passou por um processo de reforço negativo, eliminando algo que era ruim pro cão (o portão) O reforço positivo é um dos pilares do adestramento positivo. Pois constrói um processo duradouro de aprendizagem e comunicação assertiva com o cão.

Punição Negativa e Positiva

A punição sempre vai diminuir a frequência do comportamento, o que não significa ser a melhor opção para corrigir comportamentos indesejados.

Punição Positiva

É a soma de algo ruim após a expressão de um comportamento, como o uso do enforcador ou do cutucão na lateral do cão. Exemplo: O cão late/rosna e na sequência o enforcador é pressionado ou o cão sofre um cutucão. Essas ações aversivas vão diminuir esses comportamentos, suprimir a linguagem canina e não vão ensinar o comportamento adequado, o que poderá resultar na volta desse comportamento indesejado com maior intensidade. Muitos profissionais fazem uso dessa punição como método educacional.  

Punição Negativa

Vai subtrair algo bom após a expressão de um determinado comportamento. Exemplo: o cão pula para interagir com o tutor e na sequência o tutor vira de costas  retirando a atenção. Dessa forma, o cão pode diminuir o comportamento de pular para não perder a atenção do tutor. 

Por isso que falamos que para ter um adestramento que resulte em um trabalho duradouro  nunca  devemos utilizar a punição positiva, essa inserção de consequências ruins como cutucões, enforcadores, borrifadores de água, entre outros, resultam em prejuízos emocionais para os cães e criam uma desconstrução da relação cão/tutor ou cão/adestrador. No final do texto, deixamos vários estudos que comprovam esses danos. Afinal, os cães são seres sencientes.


Avaliação comportamental e endócrina do nível de estresse dos cães pelo uso de enforcadores

Adestramento positivo como tratamento para cães com distúrbios de ansiedade

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